terça-feira, 23 de outubro de 2012

TÃO PERTO... TÃO LONGE... VIDA MODERNA.

     Isolamento, solidão, estar cercado de pessoas e ao mesmo tempo... só.

     Sintomas da vida moderna, efeitos colaterais da globalização, da democratização das redes mundiais.

     Atualmente muitos que viviam isolados encontraram uma válvula de escape para voltar a interagir com o mundo, as redes sociais, a internet, o mundo virtual.
    Esta vida(?) virtual é mais fácil, mais simples, as interações e os contatos superam a timidez, acobertam a falta de tato no convívio real.

     Eu costumo dizer que as redes sociais criam novos "melindres", criam novas necessidades de aceitação em níveis mais elevados, afinal, o alcance de qualquer ato ou opinião é muito maior,e em muito casos a necessidade de aceitação acompanha esta curva no gráfico do crescimento exponencial que esta realidade virtual criou.

    A internet aproxima pessoas distantes, mas afasta quem está ao seu lado, a rede mundial e as redes sociais diminuem distancias globais, mas em compensação cria um obstáculo abissal entre pessoas próximas.

   Quantas vezes por dia você vê alguém que deixa de olhar no olhos, para buscar em seus "gadgets" por novidades e atualizações em sua vida social virtual?

  Como vivíamos antes disso? Como sobrevivemos a uma era, em que as fichas telefônicas eram a resposta para manter contato de qualquer lugar?

   A sociedade está mais "calorosa" e "receptiva", eu diria até mesmo que está mais... solidária, pena que isso tudo ocorra em ambiente virtual. Uma ferramenta tão poderosa de informação, de contatos, transformada em uma fogueira de vaidades que agora parece criar novos tipos sociais, e porque não novas síndromes?

   Em breve teremos pessoas sofrendo de depressão virtual, de fobia de rede social, afinal muitos estão transferindo seus sentimentos e sua vida real para o ambiente virtual, o que esperar no futuro?

   Amores, amigos, trabalho... tudo interligado, próximos, bastando apenas um "clique" no mouse, mas... distantes do toque, da voz real, do sentimento real.

   Será que é tão difícil um casal desligar os telefones na hora do jantar? 

   Será que é tão difícil apertar a mão de um amigo ao invés de ficar enviando mensagens virtuais?

   Todo este processo de virtualização da vida... só aumenta o isolamento, só cria novos medos e fobias, afasta quem está ao lado,e aproxima quem está distante, não há equilíbrio, não somos comedidos ao lidar com isso,e porque? Porque somos crianças brincando com algo novo, um brinquedo que pode ser perigoso, não existe maturidade ainda para lidar com isso, com todo este "avanço".

   A nova "realidade"  isola, como alguém pode estar feliz se sente necessidade de relatar sua vida passo a passo,e se necessita de cada vez mais aprovação em relação à isso?

    E como se não bastasse... muitos usam o anonimato, usam a rede para ataques pessoais, é a prova da vulnerabilidade de quem vive uma realidade virtual. Sejamos cuidadosos...  sempre.

   É preciso ter cuidado para não regredirmos socialmente, para não voltarmos as nossas cavernas, para não esquecermos do mundo la fora, do toque, das sensações reais, dos amigos, dos... amores.

   Uma traição virtual não é menos cruel do que uma traição no mundo real, uma palavra proferida de maneira indevida e aspera no mundo virtual, tem mais peso e alcance, do que aquilo que é dito em uma discussão frente a frente.

    Aquilo que eu comento com um amigo sentado frente a frente... é assunto nosso, aquilo que eu comento com um amigo na rede social, é um assunto de todos... o que fazer se a privacidade é tão devassada pela vida moderna? 

    A exposição pessoal... fica a critério de cada um, é o exercício do livre arbítrio com uma intensidade nunca vista antes.

      Não critico, não recrimino... mas deixo algumas perguntas no ar.

            Até que ponto sua vida virtual é mais interessante do que a sua vida real? 

      Até que ponto a pessoa ao seu lado é menos interessante do que o mundo virtual?
        
              Quanto tempo você passa em frente a tela do seu computador,e quanto tempo você deixa de dedicar a sua família, aos amigos, ou a alguém especial?

              Se é uma ferramenta de contato, útil para reencontrar velhos amigos, conhecer pessoas, compartilhar experiências, porque transformá-la em uma ferramenta de isolamento? De distanciamento da vida real?

               Tem alguém especial lá fora?

                Já que está sempre à mão, pegue seu celular, ligue, diga... "olá", saia...            a vida está lá fora, distante desta caverna virtual.

                Vamos utilizar esta ferramenta que a vida moderna nos trouxe, para melhorar nossa qualidade de vida, para nos aproximar das pessoas, e não o contrário.




    
   

ENCONTRO A TRÊS... ( MODERNO )

Só uma crônica da vida como ela é ,como diria Nelson Rodrigues.

                 ENCONTRO A TRÊS.

   Tudo certo... tudo combinado, barba feita, tudo no  lugar, checar mais uma vez o roteiro e sair para um jantar e quem sabe, algo mais com aquela pessoa especial.

   Abrir a porta do carro... aquela mesa para dois no cantinho mais romântico do restaurante,e pronto, ela surge com o "terceiro elemento" para atormentar e ocupar espaço a mesa.

                          O celular.

   Você começa a entabular uma conversa agradável e...

    - "Me dá um minuto? É minha amiga me contando uma coisinha, mas vai falando que eu estou prestando atenção enquanto digito tá?"

    Ah claro, e nem o olhar sexy para me convencer funciona.
    Pronto novidade relatada, acredito que a noite voltará ao normal.

    E aquela coisa vibra sobre a mesa... de novo.

    -"Ai é meu amigo está super mal, mas vai falando que eu estou digitando mas estou prestando atenção

    Se eu dissesse... "olha tem uma barata em você!"  ela daria mais um sorrisinho e diria "continue que eu digito mas presto atenção tá?".

    Bem, depois de quase dois "giga" de mensagens enviadas, ainda tem algumas atualizações do face, olha para o telefone sorri (como eu esperava que sorrisse para mim), digita... olha de novo, faz um "selfie" pegando o restaurante de fundo, deixa o "check in" registrado, verifica o instagran, mais um sorriso, morde os lábios... enfim, fiquei segurando vela, e virtual o que é pior.

      Deixo a mesa, e sigo em direção ao banheiro... no caminho paro olho para o caixa e penso... "porque não?".

    Vou até lá, pago a agua que bebi, e digo que a "turma" na mesa da moça bonita vai pagar a diferença.

    Ela certamente me deletou, bloqueou, e excluiu de sua vida virtual, e eu pensando e agindo como um ser humano de verdade, tratei de excluí-la na vida real mesmo, pizza da geladeira, e o meu "book" de cabeceira... não, não é um notebook, é um livro de verdade, com páginas de papel e aquele cheiro  gostoso das folhas, o tato, as letras impressas e a sensação de voltar no tempo, no tempo dos vizinhos da calçada, no tempo em que era possível um jantar romântico a dois.

    É, são as facilidades do mundo moderno, a globalização dos abismos e da solidão em meio à multidão.