Parece que ficou naquele tempo de escola, quando a coragem para ir ao cinema e encontrar-se com a menina mais bonita da escola ( ao menos aos olhos do apaixonado ), era um evento que corações fracos não aguentariam.
Era uma época de aprender na raça, sem tutorial.
Aqueles momentos esperando em frente ao cinema, o medo de levar um "bolo", ver os pais deixando a menina e as amigas ali na calçada, e você de repente quase morrendo engasgado com aquela bala assassina (soft), brincadeira, mas que uma caixa de Mentex era devorada rapidinho na ansiedade ah... isso era.
Sentar ao lado durante o filme era algo apoteótico, você não sabia se via o filme, se olhava para ela, se oferecia bala, se pegava na mão, se conversava (porque poderia atrapalhar o filme), eita desespero dos 12... 13 anos em uma época de uns poucos canais na tv.
E as "brincadeiras" na casa de algum amigo, aquelas festinhas dançantes na garagem, alí na hora da música lenta, separávamos os homens dos meninos, quem teria aquela coragem equivalente a saltar na Normandia no dia D, atravessando aqueles poucos metros e convidando uma das meninas para dançar.
Quem tinha essa coragem, ficava famoso da noite para o dia... era "o cara", no dia seguinte ao acordar teria aproximadamente 1,80m e não mais 1,20m.
Mas se levasse um "toco" (modernizando a linguagem) tomava aquele porre de Guaraná Champagne (putz... nem tem mais isso no rótulo), que com muita sorte algum amigo teria batizado com aquele run de minigarrafinhas que pegou na coleção do pai.
Era uma época simples, de coisas simples, diversões simples (tá, algumas coisas eu ainda imagino que deram certo devido a sorte, aquelas peripécias que ninguém contava em casa... nunca... jamais... ), sempre tem aquele dia de pensar... "nossa, como sobrevivemos a adolescência ?
E aí tinha a famigerada festa junina, você fugia dos caras da 8ª série para não ser pego e ficar a festa toda na cadeia, tá certo que eu, modéstia à parte era meio Steve MacQueen, e sempre escapava, ou arrumava uma encrenca, mas no final tudo dava certo.
E passava a menina do correio elegante, aquela cesta e você alí com seus amigos esperando parar no grupinho, e claro, viajando na maionese e em todo vinho quente e quentão que conseguimos tomar escondido, todos ansiosos para ver quem receberia algo.
Cri cri cri...
Tempo bom, de sair com os amigos de bicicleta pela cidade, participar dos jogos da primavera ( quando escolas de todo estado compareciam), eu ainda dava sorte porque tinha amizade com o pessoal mais velho, e acabava fazendo amizade com as meninas que desfilavam na disputa de Rainha dos Jogos da Primavera, para os outros da minha idade eu era quase um Hugh Hefner (rindo alto aquí).
Eu e meu cabelo... fácil. E aí vem a primeira namorada, e olha... perguntar "quer namorar comigo ?" fazia engolir seco, parecia que estava engasgando com uma bola de tênis, suava da sola dos pés a nuca!
Por sorte, a menina na época já havia falado para uma amiga em comum que queria (meio caminho andado, só faltava chegar na beiradinha e pular), e era aquele evento, de repente você não tinha mais 13 anos... era um "veterano", entrava no roll de estudantes descolados, isso lá em 1983... 1984, era como sair na capa da revista como um dos caras mais sexys do planeta (rindo alto aquí de novo... mas era bem esse o sentimento), você passava e ouvia... "ele namora", isso era quase como ouvir... "ele é maior de idade".
E assim, amores iam e vinham, mas era simples, não era "pegação", e no fundo, nem ficávamos tão preocupados com isso, aqueles amigos parceiros de academia na adolescência, os bailes de carnaval (ahhhh os bailes de carnaval, com minha camisa florida, pulando na piscina no baile pré carnaval, depois fugindo dos seguranças do clube para não ser suspenso e poder pular carnaval depois... ), Baile da primavera, Baile da Arara Vermelha, Baile do Azul e Branco, Baile do Hawai... no interior o que não faltava era baile.
Depois hora de comparecer a junta militar e alistar-se... novos amigos, irmãos (que estão espalhados mundo afora, e pelo interior... abraço Gallo), amizades que trago até hoje, forjada nos exercícios realizados alí no páteo no asfalto quente, na marcha, no calo deixado pelo fuzil apoiado na clavícula, muita risada, tempo de sangue, suor e lágrimas.
Decada de 80... tempo bom, músicas boas, aliás... difícil encontrar atualmente algo com aquela qualidade.
Shows que eu fui sem preocupação alguma, mesmo com 15... 16 anos (Sting, Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso, Made in Brazil, Korzus... dentre outros), lembro de um show em sampa, 1989, Parque Antarctica, show do A-ha, fui com um amigo que considero irmão (abraço Enrico), e que hoje vive na Holanda, viajamos sem pedir autorização no quartel, fomos para sampa, assistimos o show e voltamos, ainda na época minha irmã e uma amiga dela foram junto.
E aquelas presepadas do tipo... "vamos lá que ela disse que só vai se eu levar um amigo, porque ela tem uma amiga...", que você só descobriria quem era na hora (literalmente o encontro as cegas).
Brincávamos com pólvora quando eramos crianças(nem me perguntem, mas comprávamos numa boa e na quantidade que quiséssemos), nos bailes do clube comprávamos martinis e cerveja numa boa mesmo sendo menores de idade, eletrônica, radio amador, brigas de turma, sem turma, comer lanche de madrugada naqueles carrinhos que faziam hamburger, não havia o volume de informações que essa molecada tem hoje, e sobrevivemos à isso.
Nossa... lembrei do meu primeiro porre.
Eu tinha uns... 14 anos, cerveja e menta verde... já me embrulhou tudo aquí só de pensar, só sei que cheguei em casa, não coseguia abrir a porta, devia ser mais de 4 horas da manhã, final de baile, lembro que meu pai abriu a porta, olhou pra mim e perguntou... "você bebeu é ?".
Só lembro que botei tudo pra fora... e no pé dele!
Estava tão passado já, que entrei e fui dormir, nem ouvi o sermão... só a pergunta "o quê é isso ?", lembro de ter dito... "acho que é uma fanta quente que me fez mal...", e ele respondendo (enquanto eu ia pra cama) "Fanta? Verde? Com cheiro de menta? Tá pensando que eu não conheço?"
Sobrevivi... .
Tanta coisa que ficou lá atrás e aquí... dentro.
Meus avós, minha bisavó, tios e tias, primos e primas, minha mãe (capaz de segurar barras e broncas que fariam o Capitão Nascimento querer mudar de sexo por não ter metade da coragem e abnegação dela), meu pai... meus irmãos.
Engraçado como a vida chega até onde estamos, ainda que pareça que ela ficou lá atrás.
Ela nos alcança.
E de tempos em tempos sentimos aqueles medos e inseguranças, equivalentes a coragem que era necessária para atravessar a garagem em uns poucos passos, e perguntar... "quer dançar ?", ou então o auge da ausência de medo diante de casamatas, campo minado, arame farpado, tiro pra todo lado, olhares fuzilantes e tatear no escuro buscando o branco dos olhos para perguntar... quer namorar comigo ?
Outros tempos. (quem sabe ainda despejo aquí mais algumas lembranças)