segunda-feira, 24 de junho de 2013

QUANDO A VERDADE / IDADE... DÓI.

     Ninguém sabe o quanto dói uma saudade, até que a sinta, até que a mesma se faça presente... na ausência.

     Não existem verdades absolutas, mas esta é inegável.

     A idade dói... e eu vejo isso de perto, dói porquê transforma-se em saudade, em lembranças de um tempo que não volta, mas que fez parte da vida de quem propiciou a nossa presença aqui, dói... porquê perde-se o título de cidadão, de pessoa produtiva, dói porquê o que foi produzido, no final é visto apenas como o "espólio".

     Porquê os idosos são tão abandonados? Porquê os idosos são vistos como um "fardo", isso para mim tem nome... "falta de consideração", poderia dizer também... "falta de respeito".

     Porquê o contato com eles é escasso? Porquê a convivência é evitada? Porquê ao invés de pensar em melhorar a qualidade de vida deles alguns dizem... "não vai durar muito... não adianta preocupar-se", como é possível isso?


      Pessoas que  dedicaram tantos momentos aos mais novos, a criação, aos cuidados, e que ao chegarem em determinada idade ou situação física ou emocional, passam a ser o tal... "fardo".
      O abandono não é só financeiro, social, é emocional,e isso pesa muito, basta num exercício de humildade, colocar-se no lugar destas pessoas, e imaginar que toda a sua dedicação, todos os cuidados, as alegrias, as tristezas, a convivência, as lições... ficam relegados a segundo plano, e que você de repente começa a ser tratado como parte da mobília, e que seu futuro... é apenas o nome na capa do inventário.
       Poucos são capazes de parar e botar a mão na consciência, de olhar para aquela pessoa, ali quietinha, e relembrar de sua altivez, de quando ela fez das tripas coração para que você estudasse, para que você tivesse as oportunidades certas, ou que simplesmente evitasse que você tropeçasse sem parar,  até o limite de suas forças.

       Envelhecer já é difícil, envelhecer com dignidade é mais difícil ainda, mas envelhecer sem o carinho das pessoas que foram o bem maior destes agora idosos... é realmente o fim dos tempos.

          Em todos os momentos, em cada época surgia uma dificuldade,e da mesma maneira que hoje o tempo de alguns é escasso, o deles também já foi,e ainda assim dedicaram-se, cuidaram, e abriram mão dos momentos de descanso... consideração e respeito, sempre.

      A presença, o toque, o respeito... eles não precisam pedir, quando existe uma coisinha chamada "consideração", que vem atrelada a muitas outras como... gratidão, lealdade, amor... quando isso existe, é natural.

      Que a hipocrisia não se faça presente entre aqueles que leem e por algumas horas ou alguns dias, demonstram sua "preocupação", isso é pior do que simplesmente deixar de lado como muitos fazem, pois é falso,e  falsidade nesta altura da vida,eles podem dispensar.

      Muitos choram depois aos pés do leito quando estas pessoas partem, choram ao lado do caixão, mas não choram por remorso, por terem esquecido de quem lhes trouxe tantas lições, e ainda que nem toda tenham sido boas, elas com certeza, lhes mostraram o caminho à seguir. Estas pessoas vertem lágrimas... porquê é um evento social e este é o esperado, além da preocupação com o espólio.

      Mas fica a pergunta... " e os que agora acham que é perder tempo preocupar-se? Que o fim deve ser breve mesmo então...   ?", será que estes pensam que este é o futuro deles também? Ou de maneira abnegada e altruísta cometerão suicídio para "poupar" as novas gerações do que eles próprios consideravam um... "incômodo"?

      Não adianta correr para afagar os cabelos brancos, segurar pela mão e dizer que ama, que sente falta... quando chegar a hora.
      Todos nós podemos abrir mão de nossos momentos de lazer, de momentos que ainda se repetirão no futuro, de momentos que serão tão efêmeros e fugazes em meio á tantas outras lembranças, que não farão sentido, e que jamais farão tanto sentido quanto a vida de quem se desdobrou por você, por mim... por todos nós.

       As mãos trêmulas que você vê agora, as marcas profundas do tempo, os sinais de senilidade, os lapsos de memória... nem sempre foi assim, pois as preocupações, os cuidados, as noites em claro, o carinho e tudo o que estas pessoas fizeram, estão aí dentro de você, de mim, de todos nós... fazem parte do que somos,de quem somos e isso, reconhecer isso, não é só respeito, é caráter.

       Que me perdoem os que não compreendem nem tampouco concordam com minhas palavras, existem momentos nos quais a emoção escreve e a razão torna-se apenas um... aríete, tentando derrubar as portas bem reforçadas da indiferença, da falta de consideração e respeito, que muitos demonstram hoje em dia pelos idosos, em todos os lugares, em vários lares.

      Sinto falta do meu avô, e já sinto falta da minha avó  ainda que presente, em determinados faz-se ausente,e que  ao observa-la olhando ao longe ou para o vazio, imagino-a lembrando de seus tempos de menina, de professora,e das "dezessete primaveras" (segundo meu avô em uma carta endereçada a ela)que encantaram meu avô quando se conheceram.

       Um dia todos nós passaremos por isso... pena que poucos tenham a consciência disso.

       Rogério Marques Gonçalves.
              filho...
              neto...
              fui bisneto...
              tive a honra de ser tataraneto...